Resenha: Minha História

Esse livro me acompanhou por um bom tempo! Comecei a ler há alguns meses. Ele sempre ia dentro da minha bolsa apesar de pesar um pouco e ocupar um espaço considerável. Amassou na minha bagunça de coisas, pegou chuva e secou ao sol umas três vezes, e ficou destruído: sujo ao redor, com as pontas das folhas e capas gastas, com manchas de água das vezes em que foi molhado…um verdadeiro desastre! Isso é considerado por muitos leitores um pecado. Estragar um livro assim deveria ser considerado um crime. Eu mesma pensaria dessa forma há algum tempo atrás, mas a verdade é que eu amo esse livro na forma em que ficou.

Todas as marcas nele me lembram de que eu fiz o possível para carregá-lo comigo. De alguns lugares onde o li. De uma chuva que tomei. 
Ele poderia ficar em casa, e eu leria somente quando estivesse aqui. Mas qual a graça? Esse livro, além de uma grande inspiração por sua história, tem história pra contar junto comigo. Acho que me apeguei mais a ele do que o normal. 
Título: Minha História
Título original: Becoming
Autora: Michelle Obama
Páginas: 438
Editora: Objetiva

Sinopse

Ainda não sei muito sobre os Estados Unidos, sobre a vida, sobre o que o futuro trará. Mas eu me conheço. Meu pai, Fraser, me ensinou a trabalhar duro, rir com frequência e cumprir com a minha palavra. Minha mãe, Marian, me ensinou a pensar com a minha própria cabeça e a usar minha voz. Juntos, no nosso apartamento apertado no South Side de Chicago, eles me ajudaram a enxergar o valor da nossa história, da minha história, da história mais ampla deste país. Mesmo quando não é bonita ou perfeita. Mesmo quando é mais real do que você gostaria que fosse. Sua história é o que você tem, o que sempre terá. É algo para se orgulhar.

Minhas Impressões

O livro é dividido em três partes: A História Começa, A Nossa História e Uma História Maior.

Em A História Começa, nós realmente começamos a conhecer Michelle. Não como a primeira-dama dos Estados Unidos, mas como a criança que ela foi. Ela nos conta sobre sua infância no South Side, sua relação com Craig, seu irmão, como era viver com sua família, e etc. Ela tirava boas notas, era muito dedicada à escola, mas sabia que a vida não seria fácil, independente do que ela escolhesse estudar e seguir carreira, afinal, ela é uma mulher negra.

“Muito antes de se tornar um resultado verdadeiro, o fracasso começa como um sentimento. É a vulnerabilidade que gera insegurança e depois é intensificada, muitas vezes de propósito, pelo medo.” (pg. 60)

Vemos Michelle crescer, sendo uma ótima aluna, conseguindo estudar em boas universidades e se formando em advocacia, mostrando para muitas pessoas que uma menina negra de um bairro pobre pode sim estudar e se formar na área em que quiser.
Pausa para um detalhe que acabei lembrar: ela conta da primeira vez que fumou maconha. Michelle Obama. Fiquei chocada com essa parte. Vamos continuar com a resenha:
Michelle trabalhou em um escritório de advocacia por um bom tempo e em um cargo alto, e foi em seu trabalho que conheceu e começou a namorar Barack Obama.
A Nossa História, segunda parte do livro, conta sobre a vida de Michelle e Barack antes da presidência. Eles são um casal lindo. Um respeita as individualidades do outro e o apoia em seus sonhos. Michelle conta que Barack sempre teve o sonho de mudar o mundo com pequenas atitudes, e sempre foi muito ligado à política para tentar relizar tais metas. Michelle nunca gostou muito de política, inclusive relutava no início, quando Barack entrou no ramo. Ambos sempre foram muito preocupados com a comunidade negra, em especial, que sempre sofreu muito por conta do racismo.
Eles tiveram duas filhas: Malia e Sasha, com as quais Michelle sempre prezava pelo ensino e educação, assim como seus pais fizeram com ela.
Podemos acompanhar a vida dessa família até a decisão de Barack para concorrer à presidência. Michelle o ajudou na campanha fazendo diversos discuros, viajando sempre e tentando conquistar mais e mais eleitores. Nesse período ela aprendeu muito, afinal sempre era vigiada pela mídia e qualquer coisa que falasse poderia acabar sendo usada contra ela.
“Eu era mulher, negra e forte, o que para certas pessoas, mantendo certa mentalidade, só poderia se traduzir em ‘raivosa’. Era outro clichê danoso, sempre empregado para varrer para o canto mulheres de minorias, um sinal inconsciente de que não deveriam escutar o que tínhamos a dizer.” (pg. 282)
Depois de muitas campanhas e trabalho duro, Barack finalmente ganhou as eleições, e o livro chega em sua terceira e última parte: Uma História Maior.
Essa foi a parte que mais me envolveu. Não pude deixar de comparar a forma como um presidente é tratado nos Estados Unidos da forma como um presidente é tratado no Brasil. Michelle conta que eles eram monitorados o tempo todo pelo serviço secreto. Alguns agentes ficavam de tocaia na porta da sala de aula das filhas dela, nenhum deles podia sair para nenhum lugar sem aviso prévio, muito menos sozinhos. Todos sempre andavam acompanhados de muitos seguranças, sempre atentos a possíveis ameaças e ataques. Enquanto isso, no Brasil, nosso presidente fura a quarentena para ir em manifestações a favor dele mesmo, e vira piada na internet por escorregar e cair.
A família se muda para a Casa Branca, que é enorme pela descrição de Michelle, e tem que se adequar a uma nova vida. Eles enfrentam muita coisa, tendo em vista que não é comum se ver um presidente negro nos Estados Unidos, nem uma família negra na Casa Branca.
“Como a única primeira-dama afro-americana a pisar na Casa Branca, eu era ‘de outro tipo’ quase que automaticamente.” (pg. 299/300)
Michelle não sabia muito bem como era ser uma primeira-dama no início. Afinal, o papel da primeira-dama sempre foi apoiar o presidente e sorrir para fotos. Só isso. Mas é claro que ela não se contentaria com esse papel.
Aos poucos Michelle foi mudando o que conseguia para exercer o seu poder e causar impacto na sociedade. Criou uma horta na Casa Branca, onde crianças de escolas iam fazer plantações, incentivou as crianças a se alimentarem melhor e fazerem mais exercícios através de diversas ações com empresas e escolas, e ajudou a uma geração de crianças a se tornarem mais ativas e saudáveis.
Michelle também se preocupava muito com a educação de meninas, principalmente. Ela visitava muitas escolas e era exemplo para muitas meninas. Como sempre prezou pela educação, fazia o possível para mostrar para meninas que foram os seus estudos que a levaram até ali.
“Essa questão me tocava intimamente. A educação foi o instrumento básico de mudança na minha vida, minha alavanca para subir na sociedade. Era chocante que tantas garotas – mais de 98 milhões no mundo, segundo estatísticas da Unesco – não tivessem acesso a isso. […]
Recutei a ajuda de Janelle Monáe, Zendaya, Kelly Clarkson e outros talentos para lançarem uma música pop muito bonita, escrita por Diane Warren, chamada ‘This Is for My Girls’, cuja renda gerada seria destinada para a educação feminina em nível mundial.” (pg. 414/415)
 
Michelle fez tudo o que pode para tentar melhorar os Estados Unidos enquanto ocupava o cargo de primeira-dama, e é um trabalho lindo de conhecer.
Ao final do segundo mandato de Barack, um dos candidatos a presidência era Trump, com discursos xenofóbicos, racistas e machistas. Michelle não suportava pensar na ideia de vê-lo na presidência, e logo mostrou seu apoio a Hillary Clinton, que como sabemos, acabou perdendo as eleições, coisa que deixou a família Obama bem chateada.
O livro é bem intimista. Eu me sinto melhor amiga de Michelle, mesmo sem nunca ter conhecido a mesma pessoalmente. Nós vemos toda a sua trajetória, apesar de ser um livro grande, de forma resumida. Conhecemos seus pensamentos, angústias, sonhos, e muito mais. Vemos o poder que uma mulher negra com um sonho de melhorar o mundo pode ter. 
Os capítulos são bem grandes, cada capítulo tem muitas páginas e eu nunca havia lido um livro assim. Muitas vezes eu parava no meio de algum capítulo por cansar de ler naquele momento e retornava depois. Acho que esse é o único ponto negativo que encontrei, mas isso é só pelo fato de eu não estar acostumada com livros nesse formato, porque acabou funcionando muito bem para a proposta.
O que fica como mensagem final é otimismo e permitir entrar. Eu queria citar aqui as últimas palavas do livro, mas acho spoiler demais. Acredito que quem quiser ler vai amar o final do livro, as últimas palavras e a mensagem que ele deixa.
★★★★★
Há algumas semanas, foi lançado um documentário na Netflix com o mesmo título do livro, onde vemos a turnê de lançamento do livro de Michelle e podemos conhecê-la ainda mais. Claro que eu irei assistir e daqui a poucos dias, escrevo minhas impressões num post aqui do blog.

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32 comments on “Resenha: Minha História

  1. eu sempre tive vontade de ler esse livro, que ja leu sempre me recomendar ainda não sei pq não comprei rs mais vou comprar.

  2. Oi Vitória, tudo bem? Os melhores livros são aqueles que passam pelas provações junto com a gente, néh? Sempre que eu vou trabalhar levo um livro ou dois dentro da minha bolsa para poder ler durante o trajéto ou quando tiver uma folga no trabalho, algumas pessoas da escola não gostam de me ver lendo…kk… mas, eu continuo levando meus livros mesmo assim.

    Esse livro da Michele Obama é uma inspiração para nós mulheres negras e fortes que estamos lutando por um país sem racismo e democrático! Fiquei imensamente feliz de saber que você leu ele no seu tempo, não colocou uma meta para lê-lo em quinze dias como vi muitas pessoas fazendo, pra mim esse livro tem uma grande história e ela merece ser lida e apreciada por todos.

    Viviane Almeida
    Resenhas da Viviane

    • Está certíssima de levar seus livros com você!

      Eu NÃO CREIO que tem gente que coloca um prazo pra ler esse livro – na verdade, qualquer livro – porque, como você mesma disse, ele merece ser apreciado. Eu gosto de leituras que rolam no meu tempo. Sob pressão nada sai.

  3. Antes de mais nada preciso dizer que alegria você trouxe ao meu coraçãozinho ao mostrar que os "danos" sofridos pelo seu livro foram bem vindos, por tê-lo incorporado à sua história… Eu apoio TANTO isso! Sinto que livros impecáveis não foram lidos e, por isso, não viveram de verdade. E olha que sou restauradora de papel, hahaha, mas uma restauradora pouquíssimo preciosista. Amei de verdade que ele te marcou e foi marcado por vocês.

    Agora, sobre ele em si, que citação FORTE essa da "mulher histérica", e forte porque é real. Deve ser tão difícil chegar em qualquer lugar tendo a sociedade toda contra você, e a Michelle chegou onde nenhuma outra tinha chegado antes. Fico imaginando a ironia que seria ELA na cadeira da presidência, além de primeiro mulher ainda preta? O racismo daquele país ia ao delírio, no péssimo sentido da palavra, e seria bem feito.

    Eu ia falar que cada país tem a Michelle que merece mas, sejamos sinceras, os EUA não merecem a Michelle que tiveram, não, porque também são um retrato de quem ocupa a presidência agora e da que nós temos atualmente… Ela é boa demais pra eles, isso sim!

    • SIM, SIM E SIM! Livros tem que ter vivência né?

      Olha, eu super concordo que os EUA não a merecem, na verdade, acho que nenhum país está preparado para ter uma Michelle Obama no poder, e ela mesma não faria isso, então o mundo está "equilibrado", hahaha!

  4. Que resenha incrível!!!
    Eu tenho muita vontade de ler esse livro com a vida da Michele, uma amiga já leu e falou que é uma leitura fascinante e inspiradora.
    E gostei, pq sua resenhei me deu uma visão melhor do livro. Com certeza vou ler.
    Ahhh quase tive um treco com o tanto de coisa que aconteceu com o livro kkkkkkkkk. Mas já passei por algo parecido e mais de um livro, rs.

    bjs

  5. É muito legal quando, numa biografia, a gente consegue se sentir íntimo de quem está ali, contando a história e revelando o que sente e tal. Achei bem bacana como o texto da Michelle mexeu contigo.
    Capítulos longos podem realmente ser complicados, ainda mais se não se tem hábito. E eu vou procurar a série da Netflix. Obrigada, linda, pela indicação! ♥

  6. Raramente leio biografias, não sei o motivo, mas elas sempre ficam lá no fundo da lista de leituras e isso me faz perder muitas informações interessantes e úteis. Fiquei com vontade de ler essa biografia da Michelle, espero me animar e ler após a quarentena hehe

    Abraços!

  7. Eu, particularmente, gosto bastante! Saber a história das pessoas é bem legal. Acho que se você se der a chance de ler uma vai adorar!

  8. Tinha curiosidade para ler este livro e amei ler sua resenha. Muito bom ver a história de sucesso de uma mulher corajosa.
    Deve ser muito legal conhecer as diferenças de tratamento de um presidente nos EUA e os do Brasil. Nos EUA, se um presidente eleito tivesse sofrido um atentado durante a campanha, certamente o quase-homicida seria condenado, e, dependendo do estado, levaria pena de morte ou perpétua. No Brasil, a política é tão suja que nem sequer fazem um julgamento decente. Sou contra pena de morte, mas sou a favor do julgamento decente.
    Também lembro de estar nos EUA e os americanos perguntarem para mim (com tom de riso) sobre o President Squid (Lula). Não gostava do desrespeito. E quando morei lá, Dilma era presidente e eles perguntavam indignados: como um país elege uma bank thief?
    o Brasil é meio que o país da zoeria, da brincadeira, onde "tudo está bem". Isto leva outros países a desrespeitar nossas autoridades – assim como o próprio brasileiro desrespeita. :S
    Voltando à biografia: é lindo saber de pessoas que têm o intuito real de melhorar a vida dos outros. 😀
    x

    • Sim! O Brasil é motivo de chacota em outros países e até aqui dentro mesmo né, também…do jeito que anda a política, nem vou julgar.

  9. Também costumo levar um livro na bolsa! Fico feliz de ter dado tudo certo como seu livro, afinal eles são para ser manuseados e não apenas enfeitar a estante…
    Quanto ao livro propriamente dito confesso que até então nunca tinha me interessado, mas estou bem curiosa com a história, acho que terei uma outra percepção…
    Abraços

  10. Nos últimos tempos tenho tentado me desprender um pouco da ideia de "livros impecáveis". Ainda gosto que os meus estejam em bom estado, mas eu grifo, eu deixo post-it, eu empresto e peço para meus amigos deixarem recados… essas coisas deixam meu livro ainda mais especial!
    Ok, mas quanto ao Minha História, eu não sei muito sobre a história da Michelle, mas, pelo que eu sei, acho ela uma mulher admirável. Não sou a maior fã de livros biográficos, então não posso garantir que lerei esse (hehe), mas fiquei curiosa com o documentário. Vou assistir, vai que eu me animo a ler também?
    Amei sua resenha, está super completinha <3

    • Se você ler o documentário eu nçao tenho DÚVIDAS de que vai querer ler o livro, hahaha!
      Obrigada pelos elogios, Lu <3

  11. Gostei imenso desse livro, de conhecer a Mulher primeira-dama, mãe, esposa, figura pública e achei engraçado você ficar em choque com o uso da maconha. Eu não curto drogas, mas acho que fui a única na faculdade a não experimentar. Estudei em Portugal e era a fase das loucuras. O primeiro ano era um tumulto de possibilidades e eu era a menina estrangeira que só queria estudar. Ouvia dúzias de histórias e me divertia apenas com isso.
    Acho que vou colocar esse livro na lista de releituras
    bacio

  12. Oi Vi, tudo bem? Ainda não li muitas críticas sobre esse livro mas as poucas é sempre carregada de elogios. Acredito que livros assim trazem uma grande lição intrínseca. O autoconhecimento, saber nossas qualidades, defeitos, buscar nossos sonhos e fazer a diferença onde quer que estejamos. Ela é uma mulher admirável com certeza. Fiquei curiosa quanto a leitura. Um abraço, Érika =^.^=

  13. Eu vi o documentário na Netflix, da divulgação do livro e fiquei apaixonada e toda arrepiada! Já tinha visto o livro há tempos e fiquei louca pra comprar! Agora tô louca pra ler!

  14. Está aí um livro que tenho cobiçado e tenho vontade de ler. A resenha ficou bem motivadora e gostei do seu sentimento quanto ao livro e o estado dele após a leitura.

  15. Uau gostei muito da sua resenha ajuda a entender melhor o proposito do livro. Ficou bem marcante esta parte "Sua história é o que você tem, o que sempre terá. É algo para se orgulhar." raramente se orgulha da historia quando ela não mostra tanta vitoria. Beijos