Tudo certo pra dar errado

Mandei uma mensagem no WhatsApp da Milena perguntando se ela iria demorar muito pra chegar. Nós havíamos combinado que ela chegaria na minha casa por volta das 18h para podermos nos arrumar juntas, assim como eram nos velhos tempos, comer algo e sair. Já eram 18h30 e nada da Milena chegar, e o pior é que eu preciso da ajuda dela! Não consigo escolher uma roupa sozinha, muito menos me maquiar.

        📱 “oi Lu, já tô aqui na sua rua, desculpa a demora! tive que ajudar meus pais a descarregar umas compras que eles fizeram e me atrasei toda, mas em um minuto eu tô aí!”

Finalmente! Quando o interfone tocou, não deu tempo nem de completar o primeiro barulho pois eu estava plantada do lado dele e prontíssima pra atender. Autorizei a entrada da Milena, e assim que ela chegou, mal abri a porta e já fui puxando ela pra dentro do meu quarto.

— Ai, Lu! Que pressa toda é essa? Oi pra você também! Quem vê pensa que estamos super atrasadas…a balada só abre às 22h! — A Milena já chegou reclamando.

— Milena, até parece que você não me conhece. Você sabe que eu gosto de chegar bem cedo pra ser uma das primeiras na fila e entrar antes de encher de gente, assim nós conseguimos escolher um lugar bem legal e não precisamos ficar espremidas em um canto. Aliás, até parece que EU não TE conheço! Você demora horas pra ficar pronta, e com certeza vamos nos atrasar.

— Sem drama, dona Luciana, a última vez que fomos pra uma balada  foi há 3 anos atrás, de lá pra cá eu aprendi a me arrumar mais rápido, você vai ver.

— Acho bom mesmo…não quero ter que pegar uma fila imensa pra entrar não.

Começamos a nos arrumar. A Mi estava super chique, com uma roupa bem confortável mas ao mesmo tempo, elegante. Ela usava uma calça flare preta brilhante de cintura alta, com um cropped rendado também preto, um salto anabela nude e um brinco gigantesco, e com certeza ficaria ainda mais maravilhosa quando passasse maquiagem. Depois de se vestir, ela me ajudou a escolher minha roupa, apesar de ficar reclamando da falta de opções, já que as peças eram praticamente as mesmas, o que mudava eram as cores. A verdade é que eu sempre vou pra balada com o mesmo estilo de roupa: short, cropped e às vezes coloco uma pochete para não perder meus documentos (a Milena sempre levou uma bolsinha de mão, QUEM em sã consciência leva pra balada uma bolsa que precisa ficar segurando?). No final, a roupa escolhida foi um short jeans de cintura alta, um cropped tomara que caia branco, uma pochete preta e um tênis branco. Diferente da Mi, eu sempre gostei de sair de tênis para não cansar os pés tão rápido, não aguento ficar tanto tempo no salto como ela, então prefiro não arriscar.

— Lu, não sei se é uma boa ideia você ir com essa roupa tão curta…— Disse Milena, com um ar de preocupação.

— É Mi, três anos se passaram, mas a conversa continua a mesma. Eu sempre te disse, e vou repetir: eu me sinto bem usando roupas assim, e não vai ter nenhum homem mexendo com a gente na rua, afinal, vamos de Uber.

— Eu sei amiga, mas dentro da balada sempre tem vários caras que são sem noção, é com isso que eu me preocupo.

— Relaxa! Eu sempre saio assim, nunca me aconteceu nada, e se um sem noção chegar perto de mim, eu dou um “chega pra lá” nele e fica tudo resolvido.

Fizemos maquiagem e cabelo e terminamos de nos arrumar, levamos duas horas para ficarmos prontas. Eu havia preparado uma comida para jantarmos antes de ir pois não queríamos ter que gastar dinheiro com comida na rua, já que havíamos pago caro no ingresso do open bar.

Após o jantar, chamamos o Uber e fomos para a festa. Éramos umas das primeiras da fila, assim como o planejado, e logo que entramos escolhemos o melhor lugar para ficar, era entre o banheiro e o bar, e não tinha nenhuma caixa de som tão próxima, de forma que o som era agradável.

Que noite gostosa! Dançamos, bebemos e aproveitamos muito! Eu adoro baladas por conta do ar de festa, gosto muito de beber e sempre vou na intenção de curtir.

Um bom tempo depois, quando era por volta de duas da manhã, eu já estava cansada de tanto dançar e fui até o bar pegar uma garrafinha de água. Assim que peguei e me virei para voltar pro lugar onde a Mi estava me esperando, percebi que uma pessoa me olhava de longe, e conforme eu andava, ela ia me acompanhando com o olhar. Eu não quis olhar na hora para não ficar um clima constrangedor, então fui ao encontro da Milena e pedi pra ela olhar discretamente quem estava me observando e me dizer se era um cara bonito ou não. Pela cara pálida dela, parecia mais um fantasma, então eu mesma decidi me virar e ver logo quem era. Para a minha surpresa, era o Gustavo,  meu ex…caso.

Eu e o Gustavo ficamos juntos por dois meses, mas não estávamos namorando nem nada. A gente se via de vez em quando e tínhamos uma relação um tanto quanto complicada. Um dia ele marcou de me encontrar em um restaurante super chique, e eu até pensei que seria pedida em namoro (coitadinha), mas o motivo do encontro era uma conversa para terminar o nosso “relacionamento não intitulado”, pois ele precisaria viajar para fora do país por um ano a trabalho, e achou que não conseguiríamos manter nosso caso a distância. Eu entendi o ponto dele, e na hora dei a maior força para que ele fizesse a viagem, disse que estava tudo bem e que a gente não tinha nada demais, nem precisava daquela cerimônia toda. Mas a verdade é que eu menti.

Quando cheguei em casa eu desabei. Chorei muito, e fiquei mal por semanas. Eu gostava muito do Gustavo e queria sim que ele fizesse o que fosse melhor para a carreira dele, mas ao mesmo tempo eu pensava que se o sentimento que ele tinha por mim fosse recíproco, ele me pediria em namoro e tentaria manter a nossa relação. 

A Milena foi a pessoa que mais me ajudou nesse momento que passei, e ela sabe que eu ainda gosto dele, provavelmente foi por isso que ficou com cara de espanto quando o viu na mesma balada que nós.

Assim que eu o vi, virei pra Milena na mesma hora desesperada:

— AMIGA, O QUE EU FAÇO?

— Lu, eu não sei! Se você quiser a gente pode ir embora agora, ou ficar em outro lugar da balada.

— Não, eu não vou fugir dele.

— Mas você ficou tão mal quando ele foi embora…

— Sim, porém ele não sabe disso. Eu falei que estava tudo bem, que ele devia viajar mesmo e que, inclusive, fez muita cena pra me dar a notícia da viagem. Eu fiquei muito mal mesmo quando ele foi, mas já faz tanto tempo…acho que eu já consigo lidar com essa situação.

— Tudo bem Lu, você sabe o que é melhor pra você mesma, e eu estou aqui para te apoiar em tudo. — ela disse sorrindo.

No mesmo instante, senti meu celular vibrar e fui conferir.

        📲“Oi Lu…você não esqueceu de mim, né? Gustavo! Aquele que viajou há uns anos atrás.

            Eu estou na mesma balada que você, olha que coincidência! Acabei de te ver, mas fiquei com receio de chegar perto pra conversar porque você pareceu meio assustada quando me viu. Tá tudo bem? Será que a gente pode trocar uma ideia? Tô com saudade de você.”

Meu coração disparou ao ler aquela mensagem. Eu bloqueei a tela do meu celular e olhei pra trás o procurando, assim que o vi, percebi que ele estava me olhando também, provavelmente esperando uma resposta, e eu apenas sorri. Perguntei pra Milena se não tinha problema ela ficar ali sozinha um pouco para eu conversar com ele, e ela disse que não. Então eu fui em direção a ele, para podermos relembrar os velhos tempos.

E estava tudo certo pra dar errado.

Esse post faz parte do Projeto Fora da Caixa, e o tema do mês foi “uma música”, eu decidi pegar minha playlist de músicas e colocar no aleatório, e a primeira que tocasse seria a que eu usaria no post, criando uma história fictícia com base na música. A música foi B.O. temporário, do WC no Beat, e apesar de ser uma música que eu amo, fiquei desesperada num primeiro momento pensando em COMO criar uma história pra ela. No final das contas, adorei o resultado.

Fora da Caixa é um desafio onde os blogs participantes escolhem um tema mensal para fazer uma postagem relacionada ao tema, e o importante é exercitar a criatividade. Os temas podem ter várias interpretações, sendo representados através de fotografias, textos, desenhos, etc., depende da interpretação de cada um.

 Visite os blogs participantes do projeto

Diário de uma desastrada | Imprevistos Musicais | Tecer Flores e Cheirar Livros

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14 comments on “Tudo certo pra dar errado

  1. aaaaah, arrasou, mulher!! Confesso que esse foi um tema muito difícil mesmo haha mas adorei a história que criou em cima da música!!

  2. Adorei a ideia da criação de uma história fictícia a partir da letra de uma música, achei muito interessante! Ficou muito bom, gostei muito de ler, arrasou!

  3. Que texto gostosinho de ler! Foi meio nostálgico também, facilmente poderia ser eu e uma amiga há alguns anos atrás. Quanto a música que você citou, eu não conheço, mas achei incrível a ideia de criar a história com base na música. Tá aí uma coisa que eu nunca conseguiria fazer, parabéns pelo post!

  4. Nossa, eu ri muito desse texto por milhões de motivos pessoais, mas principalmente porque "Sem drama, dona Luciana" é uma das frases que mais escuto na minha vida, hahahaha!

    Eu amo os resultados do Fora da Caixa por aqui. Vocês sempre arrasa!

    • HAHAHAHA SEM DRAMA, DONA LUCIANA!!!!!
      Foi um texto sobre você, mesmo sem eu fazer a menor ideia disso, né? Hahaha, adorei!