Encontrando o equilíbrio na volta pra casa

A tal da sororidade

Eram quase 22h e eu estava no ponto, esperando meu ônibus passar para poder ir pra casa. A rua estava escura, e o ponto vazio, somente eu. Não ligo pra isso, afinal, não tenho outra opção a não ser o transporte público.

Passou um ônibus que não estava funcionando, e eu segui sentada esperando, com meus fones nos ouvidos escutando música. Logo em seguida, chegou uma mulher:

— Aquele era o ônibus 888?
— Não. Ele era daqueles que não leva ninguém, devia estar quebrado ou indo ser guardado. — respondi tirando um dos fones de ouvido.
— Ah, ainda bem que não perdi. — disse ela sentando ao meu lado.

Eu não falei nada, mas nós iríamos pegar o mesmo ônibus. Continuei sentada, olhando pra frente, sem um dos lados do fone no ouvido, mas também sem trocar uma palavra com a moça.

De repente, um barulho de ônibus. Era o 999. Passou direto e nenhuma de nós demos sinal para parar.

E o silêncio seguiu.

Pouco tempo depois, escutamos um barulho que parecia ser de um ônibus vindo, e a moça comentou comigo:

— Tomara que dessa vez seja o 888.
— Sim! — respondi, e era.

Assim que o avistamos, levantamos para dar o sinal, e a moça concluí a conversa:

— Eu poderia pegar o outro ônibus que passou antes… Mas, quis esperar esse pra você não ficar aqui sozinha. Sei como é ruim ficar só no ponto essa hora da noite.

Eu sorri, agradeci, entramos no ônibus e sentamos em lugares diferentes.

O que aquela moça não sabia é que eu também poderia ter pego o primeiro ônibus, mas prefiro esperar o 888 já que o trajeto dele é mais rápido, e a tarifa menor. Eu esperei por escolha minha, e ela esperou pensando em mim. Uma mulher que eu nunca tinha visto antes, e provavelmente não encontrarei novamente. Troquei poucas palavras com ela e nem sabia o seu nome. Mesmo assim, ela pensou em mim e em como seria desconfortável a situação, já que ela com certeza passa pelo mesmo.

Seria essa a tal da sororidade?


3 balas e 1 sorriso

Entrei no trem e não havia nenhum lugar para sentar. Fiquei em pé, ao lado da porta, mas atenta para caso alguém levantasse, já que eu ia demorar para descer.

Haviam dois homens sentados um ao lado do outro, conversando alto, e parecia que estavam falando inglês. Fiquei olhando pra eles por algum tempo (sem que percebessem, claro) tentando entender a conversa, mas eu não conseguia ouvir direito já que estava um pouco longe, e deixei pra lá.

Duas estações depois, um lugar ficou vago e fui me sentar. Esse lugar era em frente aos dois homens (pense que são 3 bancos em L. Eles estavam um do lado do outro, e eu sentei na frente).

Escutei eles conversando e vi que falavam português mesmo (o inglês de antes devia ser um treino, ou eu só ouvi errado) e que eram um casal. Não fiquei prestando atenção, já que estava respondendo algumas mensagens no celular, mas de repente percebi que eles estavam falando de mim:

— Vamos perguntar pra moça…
— Essa aqui na nossa frente?
— Sim! — e, então, ele me chama — Moça…

Olhei com um meio sorriso no rosto e ele prosseguiu:

— Moça, prova essa bala, — tirando uma bala Fini de um saco cheio delas e me entregando — e depois vamos dar outra pra você dizer qual das duas é melhor. A gente é meio doido, mas pode comer sem medo.

Como eles pareciam ser muito simpáticos e a bala estava dentro de um pacote fechado, provei.

— É doce. — respondi enquanto ele já me dava a outra.
— Agora prova essa.

— Doce também.
— Sim! Agora diz pra gente, qual das duas você prefere? Se fosse escolher uma pra comprar, qual seria?
— A primeira, ela é mais doce, gostei mais — respondi.
— Poxa moça, tinha que ter escolhido a segunda — ele me respondeu, já que era a que mais gostava, e estava em um embate com o parceiro que preferia a mesma que eu.

Eles perguntaram meu nome, se apresentaram, me deram mais uma bala da que gostei e foram extremamente simpáticos o tempo todo. Na estação seguinte me deram tchau e desceram.

Um casal que olhei assim que entrei no trem por acaso. Nunca tinha os visto antes, participei de uma competição que acontecia entre eles, e provavelmente nunca mais os verei novamente. Ganhei 3 balas e voltei pra casa com um sorriso no rosto.


A Carteira e O Será

Estava sentada no último banco do ônibus e na minha frente tinha um outro cara sentado. Eu estava olhando a rua enquanto o ônibus se movia, ansiosa pela hora de chegar em casa.

O moço da frente se levantou, como se fosse descer, mas cutucou um outro homem que estava alguns bancos à nossa frente:

— Sua carteira caiu.
— Obrigadão cara, Deus te abençoe. — respondeu ele enquanto pegava a carteira do chão e guardava no bolso.
— Imagina.

O homem se sentou no lugar que estava antes e seguiu viagem.

Na mesma hora, coloquei as mãos nos bolsos para ver se minhas coisas ainda estavam lá ou se haviam caído (ufa! Estavam comigo).

Com essa simples atitude, pensei em várias coisas. A carteira (ou qualquer outro objeto) de qualquer pessoa poderia ter caído, em qualquer lugar. Será que a pessoa teria a mesma sorte de alguém ver e avisar? Ou será que não teria ninguém pra ver? Será que, se alguém visse, avisaria ou se aproveitaria da situação?

Fiquei pensando nisso e em como existem pessoas boas no mundo… Aliás, foi essa situação que me fez escrever esses três relatos — escrevo no próprio ônibus, enquanto volto pra casa.


Eu sentada no tapete de yoga esperando a aula comçar. Vista superior da foto, que mostra somente minhas pernas e pés. Estou usando calça vinho, descalça, sentada no tapete azul e o chão é de madeira.

As três situações aconteceram de quinta-feira, quando eu estava voltando da minha aula de Hatha Yoga. Ainda estou aprendendo, mas sei que o Yoga é o equilíbrio entre o HA e o THA. Pensar e sentir, ação e emoção, ativo e passivo.

Desde que me conheço por gente, ando na rua muito alerta. Fico de olho em tudo o que está acontecendo, afinal o mundo está cheio de pessoas ruins, e algo pode acontecer comigo.

Agora, depois dessas três situações, acho que estou começando a enxergar o mundo como o Yoga: com equilíbrio. Eu ficava tão preocupada com algo acontecer, que simplesmente não via as pessoas boas e as boas ações que elas fazem na rua, mesmo que seja perguntar qual bala é mais gostosa e melhorar o dia de alguém.

O mundo está cheio de gente ruim, mas também está cheio de gente boa. É muito bacana encontrar o equilíbrio e enxergar os dois lados com mais atenção.

Isso serve pro Yoga, pra andar na rua, no transporte público, e pra todas as situações da vida.

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